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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

RELATO SOBRE A IMPORTÂNCIA DE UMA RÁDIO COMUNITÁRIA EM UM DOS MOMENTOS DE MINHA VIDA


Darliete Sousa Lima

Primeiramente, quero dizer que fiquei muito triste por não termos terminado de assistir ao documentário sobre a criação da Rádio Comunitária ESPERANÇA, situada na cidade de Guaribas, pioneira do programa do governo Fome Zero, e que nos mostra que muitas vezes a fome não é necessariamente somente de alimentos, mas como também é importante a comunicação em nossas vidas.

Esse documentário, pelo pouco que foi mostrado, além de trazer conhecimento de como é importante uma rádio para uma comunidade, nos mostra o poder da coletividade, solidariedade, da comunicação e que é importante termos esperança sempre.

Desde os primeiros momentos do filme, logo me identifiquei com as imagens, o cotidiano daquela senhora que acorda cedo, sai em busca da água, aquele senhor sentado na cadeira em frente a sua casa. Todas essas cenas fizeram com que eu voltasse no tempo, pois eu vivi, presenciei, fui aquela criança com um balde d´água na cabeça, alguns anos atrás. Até os meus quinze anos de idade, eu morei num pequeno vilarejo chamado Vila Canindé, localizado no município de Tomé-Açú, no interior do estado do Pará, onde naquela época assim como Guaribas, a comunidade tinha fome de comunicação.

Não existiam telefones. Rádio e televisão eram somente para quem tinha poder aquisitivo para comprar uma antena parabólica. Eu presenciei o avanço, a popularização da televisão, mas a rádio comunitária da comunidade, onde era possível ouvir as vozes dos meus amigos, que são os responsáveis pela mesma, ou ouvir uma música selecionada por algum deles, o surgimento da rádio do meu povo, não tive prazer, porque nessa época eu já estava morando em São Paulo.

Mesmo estando eu aqui, a três mil quilômetros de distância daquela pacata vila que foi e é tão importante para minha vida, onde eu cresci, fui beneficiada pela rádio que lá surgiu. A rádio surgiu junto com o telefone público. A partir disso, transformou a vida daquelas

pessoas e a minha. Meus familiares e amigos moram todos lá, e o telefone é essencial para que eu possa comunicar-me com eles.

Em frente à casa de minha mãe tem um orelhão, de onde ela efetua as ligações para mim e recebe as minhas, mas um dia ele quebrou e assim permaneceu por vários dias. Portanto, fiquei impossibilitada de falar com todos.

Foi quando lembrei que a minha mãe comentou sobre a rádio da Vila, que foi criada e era a novidade do momento, pois as pessoas podiam ligar e oferecer músicas, enviar recados, colocar propagandas dos seus estabelecimentos comercias e outros, e passou o número do telefone para mim.

Então, tive a brilhante idéia de ligar e pedir para que os meus amigos locutores da rádio mandassem um recadinho para a minha mãe, falando que eu estava com saudades dela e de todos e que não estava conseguindo falar com ela. Marquei até um horário para que ela fosse até outro orelhão que fica um pouco distante e esperasse a minha ligação. Tudo resolvido: “matei” as saudades dos meus amigos, os locutores da rádio, e esclareci o mal

entendido, pois ela achava que eu esquecido de todos, porque eu nunca mais tinha ligado, como costumava fazer todos os finais de semana.

Não tem como descrever nem a minha emoção ao falar com os meus amigos da rádio nem a deles, que ficaram cheios de orgulho, pois era muito importante publicar um recado que veio de tão longe. Todos ficaram comentando, envaidecidos, foi inesquecível.

Apesar de haver vários orelhões e uma grande quantidade de domicílios com linha telefônica, o que predomina até hoje na Vila Canindé são as cartinhas que são deixadas embaixo da porta da rádio, com mensagens de amor, amizade, que deixam aqueles a

quem as mesma são destinadas com o ego, a auto-estima, elevadíssimos.

Darliete Sousa Lima escreveu este texto para a Disciplina Tecnologia Educacional I, que compõe a grade curricular do 3º semestre do Curso de Pedagogia da Faculdade Sumaré.

Leia todo o conteúdo em

http://www.portalgens.com.br/baixararquivos/textos/relato_DARLIETE.pdf