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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Trecho de entrevista com o comunicador da Rádio Comunitária Cantareira


Programa "Para todos", da TV BRASIL, visita a Rádio Comunitária Cantareira.

Quais as prioridades ou as necessidades de uma Rádio Comunitária?

Zé Eduardo: A rádio comunitária existe em função de uma comunidade, de um
lugar específico, geográfico. Ela não é uma rádio, pensando em termos da cidade de São Paulo, de abrangência da cidade, muito menos de uma macrorregião da cidade. Ela se resume a um bairro, uma pequena região. No caso nosso, é a região Brasilândia, que tem hoje aproximadamente duzentos mil habitantes. Então é para essa região que existe a Rádio Comunitária Cantareira. É claro que nós estamos na Internet. Quem acessar a Internet no www.radiocantareira.org vai ouvir a Rádio Cantareira, na Brasilândia, falando do local e também de outros temas que interessam. Então o objetivo fundamental de uma rádio comunitária é servir a uma comunidade, que normalmente não aparece na mídia comercial. Então a gente não tem vez, não tem voz, nem espaço na mídia comercial, seja mídia impressa, na televisão ou no rádio. Se nós olharmos a periferia da cidade de São Paulo e das grandes cidades, e se nós olharmos, sobretudo a televisão e mesmo o rádio, a gente vai ver que a periferia aparece em situações muito
específicas, quais sejam: a violência policial, então dá a impressão de que na periferia só existe a violência e só existem problemas; ou então quando acontece algo muito inusitado, que não tem como esconder, que pode ser algo muito bom, legal e interessante. Então é dessa forma que aparece a periferia. Mas, na periferia, não acontece só violência, não acontecem só situações de morte e situações de abandono, de esgoto a céu aberto. Tem atuação interessante, muito movimento cultural. Existem jovens e outros grupos fazendo música, teatro e cinema na periferia. Grupos cuidam de crianças, para que não caiam no mundo da violência e das drogas. Há famílias e trabalhadores envolvidos em solidariedade com os vizinhos. Muita gente cuida de idosos e de crianças doentes. Essas coisas não aparecem na mídia, até porque não é de interesse mostrar que na periferia há vida inteligente. A rádio comunitária tem como prioridade despertar e mostrar essa ação que acontece na periferia, as ações de lutas em defesa da vida, em defesa de uma melhor qualidade de vida, mas também despertar para participar. Despertar para que as pessoas possam engrossar mais esse caldo cultural,
social, da luta por melhores condições de vida, do rap, do hip hop, do samba, do forró, das músicas que aparecem na periferia, que determinam a prioridade da Rádio Comunitária.

 Qual a sua estratégia para atrair o interesse da comunidade, em termos de participação na rádio?

Zé Eduardo: A estratégia da gente é: primeiro não queremos uma rádio comunitária que seja imitadora da rádio comercial. Não queremos imitar, embora a gente saiba que isso existe. Se você for à Rádio Cantareira ainda vai ter algum resquício disso. Nós estamos justamente trabalhando um processo de informação com os nossos comunicadores exatamente para romper com isso. Nós queremos criar uma rádio alternativa, uma rádio cidadã. Atrair ouvintes é exatamente fazer com que o público seja protagonista, que possa falar. Ele vai pedir a música, mas também vai falar do problema da rua, da festa que acontece na comunidade e da ação social que está desenvolvendo. Ele também vai mostrar a música e a arte que está fazendo. E é óbvio que vai fazer propaganda da rádio e vai chamar a atenção para que as outras pessoas ouçam o que ele está falando na rádio. A estratégia fundamental e principal para nós é exatamente esta, tanto que o nosso slogan da Rádio Cantareira é “a voz do povo no rádio”, “a voz do povo (nas ondas) do Rádio”. Na Internet, nós dizemos “a voz do povo na Internet”. Se você acessar www.radiocantareira.org, você vai ver o nosso slogan “a voz do povo na Internet”. É exatamente isto que nós queremos propiciar. Nós queremos apenas ser um canal em que as pessoas possam se comunicar, falar e dar a sua opinião. É claro que nossa proposta tem que ser aperfeiçoada. Não é uma coisa que está pronta, acabada. Sempre exige atenção da gente.

Zé Eduardo –Jornalista e educador popular.

Revista ALTERJOR
Grupo de Estudos Alterjor: Jornalismo Popular e Alternativo (ECA-USP)