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terça-feira, 6 de agosto de 2013

Rádios e vozes comunitárias podem politizar mais, dizem especialistas

Em meio a músicas e divulgações comerciais, rádios e vozes comunitárias em Manaus contribuem para o desenvolvimento político e social de suas comunidades, ainda que timidamente. Mas, para sociólogos e estudiosos do meio, esses espaços poderiam ser melhor utilizados em prol da população, com menos propagandas, por exemplo.
Manaus - No bairro Santa Etelvina, zona norte, é através da ‘Radio Atividade’ que os moradores se mobilizam, se informam, ajudam pessoas a encontrar documentos perdidos e até emprego. Avisam quando há campanhas de vacinação no bairro e ainda orientam os moradores a ficar “de olho” nos políticos que passaram pelo bairro, fazendo promessas e não cumpriram. Tudo isso, através de apenas um programa de transmissão diária, segundo um dos responsáveis pela rádio comunitária, Francisco Azevedo.
“Nós tentamos ensinar as pessoas a cobrar seus direitos, a ser cidadãos. Mas faltam mais projetos voltados para isso”, disse Azevedo, explicando que o envolvimento da população com a rádio ainda é tímido.
Para a estudante Tainá de Souza Matos,18, arádio comunitária mostrou que o veículo cumpre um papel importante, ao revelar que aprendeu a escolher melhor seus candidatos políticos, com orientações da rádio. “Eles (apresentadores) incentivam as pessoas  a não votar naquele político que prometeu e não cumpriu e a gente aprende”, contou.
Opinião semelhante tem o comerciante Cleber Batista de Lima, 26, que ressaltou o trabalho da rádio em ajudar pessoas a encontrarem documentos perdidos e até a encontrar emprego.
Para o aposentado Raimundo Carneiro Gomes,63, a comunidade mudou muito desde a implantação da rádio comunitária, há quatro anos, devido à mobilização dos comunitários. “A comunidade se desenvolveu, cresceu, a segurança ficou melhor. O pessoal que estava desempregado consegue emprego pelos anúncios da rádio, as coisas melhoraram”, avaliou.
Na zona leste, trabalho semelhante é desenvolvido pela rádio comunitária ‘A Voz das Comunidades’, através do único programa de orientação social, o ‘Espaço Aberto’, que auxilia a população e tira dúvidas via telefone, segundo a presidente da rádio, Ivaneide Maciel.
Ela conta que parlamentares e outras autoridades são convidados para prestar esclarecimentos sobre problemas do bairro, como falta d’água, por exemplo¸ e responder a reclamações dos moradores, mas ressaltou que a emissora não tem ligações políticas. “A rádio faz um trabalho de cidadania. Aqui é o alto falante dos excluídos. Aqui, eles têm voz e vez”, afirmou.
Em uma volta pelo bairro, apenas três de dez pessoas ouvidas pelo Portal D24AM disseram que escutam a rádio, entre elas a dona de casa, Valéria Ramos Oliveira, 27. Para ela, a rádio aborda poucos assuntos políticos, sociais, ou ligados a problemas da comunidade.

Especialistas
Para a radialista e doutoranda em Sociedade e Cultura da Amazônia, com ênfase em comunicação comunitária, Edilene Mafra, as rádios perderam parte da sua finalidade. “São espaços que não estão sendo utilizados como deveriam, que poderiam ser melhor aproveitados para o desenvolvimento dessa comunidade”, afirmou.
Mafra atribui o desvio de finalidade às regras que disciplinam as rádios comunitárias e não definem com clareza a recepção de recursos via “apoio cultural”. “As rádios só podem receber recursos através de apoio cultural. O problema é que não fica muito definido o que é esse apoio cultural”, disse.
Para o coordenador do Núcleo de Cultura Política da Universidade Federal do Amazonas (NCPAM/Ufam), professor Ademir Ramos, o desvio de finalidade ocorre por falta de fiscalização. “O papel social dessas rádios precisa ser resgatado. Se não houver fiscalização, elas se tornam apenas objeto de exploração mercantil e política”, afirmou.
A ‘Radio Atividade’ e a ‘Voz das Comunidades’ são únicas comunitárias licenciadas de Manaus, segundo dados do Ministério das Comunicações. A Rádio Belo Horizonte era a terceira rádio comunitária da cidade, mas está com a licença pendente junto ao Ministério.
Manaus também possui pelo menos 15 vozes comunitárias,  conhecidas como ‘bocas de ferro’, que divulgam informações da comunidade, com linguagem semelhante a de rádio comunitária.
As rádios comunitárias devem contribuir para o desenvolvimento social da comunidade e só podem ser operadas por comunidades e associações sem fins lucrativos. As comunitárias não podem ter vínculo político, religioso ou com empresas de comunicação. Também não podem fazer propagandas em troca de subsídios, com exceção de ‘apoio cultural’ de estabelecimentos localizados na área de cobertura da rádio.

Informações: http://www.d24am.com