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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Mau momento para a Rede Globo

Escrito por: Patrícia Benvenuti 
Fonte: Brasil de Fato
Quase 50 anos depois do golpe que derrubou João Goulart, a Rede Globo assumiu, publicamente, ter apoiado a manobra. O reconhecimento veio por meio de um editorial publicado no site do jornal O Globo em 31 de agosto e lido dois dias depois no Jornal Nacional. “A lembrança é sempre um incômodo para o jornal, mas não há como refutá-la. É História”, afirma o texto.
Como justificativa para amparar a ação dos militares, que culminou com o início da ditadura civil-militar (1964-1984), a Rede Globo alega “temor de um outro golpe, a ser desfechado pelo presidente João Goulart, com amplo apoio de sindicatos”. De acordo com o jornal, “naquele contexto, o golpe, chamado de ‘Revolução’, termo adotado pelo Globo durante muito tempo, era visto pelo jornal como a única alternativa para manter no Brasil uma democracia”.
O editorial teve grande repercussão na internet, sobretudo nas redes sociais. Os internautas, em geral, criticavam a demora para o reconhecimento do “erro” e questionavam os motivos que levaram a emissora a assumi-lo.
Para o professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Laurindo Leal Filho, o Lalo, a intenção da Globo é “limpar” sua imagem junto ao público. A tarefa, no entanto, não é tão simples. Lalo recorda que o apoio ao golpe não foi único “tropeço” da emissora ao longo de sua história.
“Não foi só o golpe que ela [Globo] apoiou. Ela vem apoiando tudo que é antissocial, antidemocrático e que vai contra os interesses da população”, resume.
O presidente do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges, também faz críticas ao editorial. Ele lembra que a participação da imprensa no período foi além de um simples apoio.
“[O texto] tenta justificar o golpe de 1964 com o clamor das massas, quando ela [Globo], na verdade, ajudou a preparar o golpe. Não teve nada de erro editorial, foi um crime que eles cometeram”, acusa o jornalista, que ressalta a participação de outros veículos no episódio. “Com exceção do jornal Última Hora, toda a imprensa – Folha, Estadão, Zero Hora, Estado de Minas – criou o clima e orquestrou para o golpe”, pontua.
O editorial também gerou manifestações do Clube Militar, que classificou o pedido de desculpas como “mentira deslavada”. De acordo com uma nota da entidade, a mudança de posição do grupo ocorre pela facilidade em se pesquisar o conteúdo publicado em jornais da época. Os militares rechaçam, ainda, o argumento de que o apoio à ditadura foi um equívoco momentâneo.
“O apoio ao Movimento de 64 ocorreu antes, durante e por muito tempo depois da deposição de Jango; em segundo lugar, não se trata de posição equivocada ‘da redação’, mas de posicionamento político firmemente defendido por seu proprietário, diretor e redator chefe, Roberto Marinho, como comprovam as edições da época”.