"Tenho
plena convicção de que a atividade jornalística não deve ser monopólio de quem
é diplomado, podendo ser realizada por quem não passou por uma cadeira de
faculdade. Um professor de jornalismo falando isso pode ser um pouco chocante,
eu sei, mas vamos aos fatos. Conheci, andando por esse Brasil, muita gente que
nunca viu um diploma, mas que é mais jornalista com um microfone de uma rádio
comunitária na mão, fazendo um pequeno jornal mural ou com um pequeno blog de
notícias do que alguns que passaram quatro anos nos bancos de universidades e
hoje refestelam-se atrás de cartões de visita, bloquinhos timbrados e um nome
conhecido – seja de redação grande ou pequena. Refletir sobre sua própria
prática, dentro de uma ética específica, sabendo o que significa o papel de
intermediar a informação na sociedade e ter a consciência dos direitos e
deveres atrelados à liberdade de expressão são desafios que não são aprendidos
necessariamente na academia. Ou em uma redação.
Ao
mesmo tempo, com as novas tecnologias da comunicação e a possibilidade de todos
se tornarem difusores de notícias e analistas de fatos, o nosso jornalismo está
tendo que se reinventar. A decisão do STF veio em um momento interessante,
de mudança.
O que
não significa, contudo, desprezar a escola de jornalismo como local de estudo,
pesquisa e reflexão da profissão e de seu ethos. Técnicas podem ser passadas no
dia-a-dia de uma redação e em cursos de treinamento de jornalistas das empresas
de comunicação. É a parte fácil da formação. Mas há outras coisas que o mercado
não entende ou permite (pois passa pela subversão de seus próprios princípios)
que precisam de um local para florescer. Falta muito para que tenhamos escolas
de jornalismo que sejam um espaço real de debate e contestação e não de
reprodução de modelos. Locais que não produzam tijolos para muros ou
engrenagens para máquinas… Mas isso não significa que esses locais não precisem
existir."
Leonardo Sakamoto